Programa de Estudos e Debates dos Povos Africanos e Afro-americanos

09/12/2014

A ignorância do racismo deve ser combatida com o conhecimento

Umuarama - Em visita à Umuarama, para ministrar uma palestra, Luiz Carlos Paixão da Rocha, mais conhecido como Professor Paixão, concedeu uma entrevista ao jornal Umuarama Ilustrado. Na conversa, o integrante do Núcleo de Estudos Afrobrasileiros da Universidade Federal do Paraná, falou dos desafios na luta contra o racismo, que na sua visão começa por meio da educação como forma de romper a ignorância. 

Luiz Carlos Paixão abriu à entrevista ressaltando a importância da escola, como veículo para levar o conhecimento e esse saber ser um instrumento de combate ao racismo presente sociedade brasileira. “Costumamos afirmar que o racismo caminha ao lado da ignorância e para suprir essa ignorância só com o conhecimento. Por isso surgiu à lei 10.639, que determina a todo estabelecimento de ensino trabalhar na sua grade a cultura afro-brasileira. O objetivo é que os estudantes tenham uma real visão da contribuição dos povos africanos e da população negra para cultura e economia do Brasil. Para que o negro possa ser apresentado de uma forma positiva”, disse.

Conforme o professor, antes a história não mostrava a África como o berço da humanidade e suas várias descobertas tecnológicas e científicas, no ensino do Brasil o negro aparecia apenas como o escravo. O resultado dessa omissão foram estudantes negros sem um espaço para construir de forma positiva sua identidade etiológica racial. “Antes diziam que o negro não tinha alma, não tinha nenhum conhecimento entre outras frases. Isso promoveu inferioridade e desigualdade e é por isso que escola precisa romper este silêncio”, alertou.


Mito da democracia racial

Em comparação a outros países que se utilizaram da escravidão, o Brasil teve um agravante, explicou o entrevistado. Devido à cultura do Carnaval e do futebol, o brasileiro se orgulhava em dizer que não era um povo racista, mas as desigualdades e a exclusão na verdade eram camufladas. “Até pouco tempo ninguém admitia que houvesse racismo no Brasil e quando não se reconhece algo, não tem como enfrentar o problema e a situação vai piorando. Aqui se vendia para o mundo que havia uma democracia racial. Mas por debaixo desse discurso, cada vez mais, se materializava o quadro de desigualdade”, noticiou Paixão.
Os números da desigualdade do povo brasileiro começaram a surgir em 2001, na participação na Conferência de Durban, na África do Sul. Os relatórios mostraram que o negro em todas as áreas: saúde, educação, moradia e mercado de trabalho viviam em uma situação de discriminação concreta. “Um negro na mesma função, com o mesmo tempo de serviço e a mesma escolaridade que o branco recebia menos. A ONU lançou um atlas racial com as estatísticas que chegou a conclusão de que, esse fosse possível separar um Brasil negro e um branco, a qualidade de vida do Brasil negro estaria atrasado vinte anos em perspectiva ao branco”, ressaltou o professor.


Um olhar diferenciado 

Muito se falou em valorização do ser humano no dia da Consciência Negra, mas na visão dos que lutam pela igualdade, não dá para pensar numa valorização humana sem olhar a situação que o negro vive no Brasil. “Quando se propõe um Dia de Consciência Negra é para chamar a atenção da sociedade para um fato, que infelizmente a maioria não consegue enxergar. A pobreza tem uma característica de cor, entre os mais pobres estão os negros e não por incapacidade do negro. Mas por uma injustiça histórica, que foi a escravização”, resumiu Luiz Carlos.
Ainda conforme o educador, terminando o período de escravidão, o ex-escravo foi jogado à própria a sorte. Não houve política que pensasse em educação, saúde e trabalho. Pelo contrário, houve uma política de embranquecer a população. “Se cristalizou durante o período de escravização, que o negro era sinônimo de inferioridade, quando se pensou um novo projeto de nação deixaram o negro de fora. Em 1911, um representante brasileiro no congresso internacional de raça, disse: “O Brasil de hoje tem no branqueamento, em um século, sua perspectiva e solução”. Eles acreditavam que ter uma população branca seria ter um país desenvolvido”, comentou Rocha.


Novos rumos

Luiz Carlos Paixão, conclui a entrevista informando que o movimento busca nas políticas públicas forma de amenizar o quadro da desigualdade. De formar a serem transitórias para daqui a 20 ou 30 anos o País não precise mais desses artifícios para garantir as mesmas condições de vida, independente de cor. “Há uma dívida social do Estado do Brasil com a população negra. Conseguimos algumas mudanças e que são significativas, mas temos muitos para avançar. Todos nos fomos formados com uma visão equivocada e para mudar essa geração será um trabalho lento. Por isso, temos na educação a forma de acabar com a ignorância e construir gerações menos preconceituosas”, declarou o estudioso. 

Fonte:Umuarama Ilustrado.

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